quarta-feira, junho 17, 2009

Alice

Olho para trás e o caminho parece-me estranho e confuso. Ainda ontem o percorri, como outras vezes, convicta e sem receios. Hoje, parece-me apenas uma pequena gruta, escura, funda, claustrofóbica, por onde palmilhei curvada e descalça, sem poder respirar. Uma gruta que explorei sem lanterna nem medo de morcegos, mas que pouco a pouco foi ficando mais pequena mas estranhamente aconchegante no seu ambiente húmido e sombrio.

Olho para trás e não sei bem como aqui cheguei. A gruta possuía apenas uma ténue luz, minúscula e intermitente, perto da superfície... uma pequena vela de paz que estava tão longe do interior, quase inalcansável para mim. Imóvel, quase espectadora da minha própria vida, actriz existindo apenas após o fechar da cortina, no silêncio do palco vazio, inveredei por uma realidade alternativa, patológica e pouco confortável. Alice fui, no outro lado do espelho, habituando-me a viver na escuridão.

Olho para trás e vejo uma luz forte na gruta... um holofote enorme, um grito de esperança, uma mão que me aplaude... E a Alice que fui acorda atordoada e sente-se triste, exausta, frustrada, uma migalha de si própria. E do incoerente caos de sentimentos, surge a calma.

Olho para trás... vejo que saí da gruta e voei, para bem longe dali... Sinto-me bem, livre, inteira, feliz. Agora respiro. Respiro fundo, bem fundo, com a total capacidade dos meus pulmões, que agora se expandem completamente, com uma leveza incrível.

Olho para trás... e saí... do outro lado de mim!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Foste tu ,Alice, qual borboleta atraída pela luz bruxuleante duma vela acesa, mas que não deixa QUEIMAR AS SUAS ASAS, e, voa rumo ao Sol FELIZ e LIVRE!
Um BEIJO

ROBO

26/6/09 01:12  

Enviar um comentário

<< Home