O quadro
"Isto? É isto?!? Já fizeste muito melhor! Isto é o quê? Nada de realismo..." – o tom depreciativo saiu-lhe disparado pela boca, quase como uma bala direitinha ao coração - "E as cores... Sumidas e pálidas? Nunca!! Olha o vermelho, a cor do sangue, parece morto! Que horror... que desperdício de tela!"
Frontalidade? Sinceridade? Rudeza de palavras! Ela não lhe disse nada que ele já não soubesse, mas o modo como o disse marcou-o... O quadro estava incompleto e há muito que não o conseguia acabar. Desde que ela saíra de casa, perdera a sua musa... nas partilhas, a inspiração foi com ela. Ainda tentou recomeçar outros projectos... mas o sentido do que fazia tinha desaparecido e ele encontrava-se irremediavelmente perdido no meio de recordações e tentativas (frustadas) de se adaptar a uma vida solitária. Procurou o conforto da reconciliação... promessas de mudança e juras de amor foram feitas e, de novo, o casal se juntou.
A estabilidade que não encontrava sózinho, também não era possível com ela. As juras são facilmente esquecidas e, em pouco tempo, os conflitos sucediam-se a um ritmo alucinante. A frieza, a falta de emoção e de delicadeza eram chocantes! Ele esperava um conforto, uma palavra amiga... ela dava-lhe desprezo e pouca atenção, sendo constante o seu ar de enfado.
A gota de água foi o quadro. Depois de tudo o que passaram, a demonstração de profunda indelicadeza e desagrado pelo seu trabalho!? Ele, que lhe dava tudo, que lhe dedicava a vida e o trabalho, que só tinha olhos para ela e só a queria ver feliz não aguentou mais uma estalada psicológica e decidiu acabar com o seu próprio sofrimento.
Olhou para ela. Olhou-a nos olhos e viu o escárnio, o ar de gozo indelicado que sempre aparecia nas horas mais íntimas, de entrega... olhou-a uma vez mais, beijou-a calmamente e disse-lhe apenas "vai ficar lindo... dedico-o a ti!"... e pegou no primeiro pincel que encontrou... (o sangue jorrava do corpo dela, caindo aleatoriamente no mortiço quadro, agora repleto do seu, tão desejado, vermelho vivo)...
(Abril 2005)
Frontalidade? Sinceridade? Rudeza de palavras! Ela não lhe disse nada que ele já não soubesse, mas o modo como o disse marcou-o... O quadro estava incompleto e há muito que não o conseguia acabar. Desde que ela saíra de casa, perdera a sua musa... nas partilhas, a inspiração foi com ela. Ainda tentou recomeçar outros projectos... mas o sentido do que fazia tinha desaparecido e ele encontrava-se irremediavelmente perdido no meio de recordações e tentativas (frustadas) de se adaptar a uma vida solitária. Procurou o conforto da reconciliação... promessas de mudança e juras de amor foram feitas e, de novo, o casal se juntou.
A estabilidade que não encontrava sózinho, também não era possível com ela. As juras são facilmente esquecidas e, em pouco tempo, os conflitos sucediam-se a um ritmo alucinante. A frieza, a falta de emoção e de delicadeza eram chocantes! Ele esperava um conforto, uma palavra amiga... ela dava-lhe desprezo e pouca atenção, sendo constante o seu ar de enfado.
A gota de água foi o quadro. Depois de tudo o que passaram, a demonstração de profunda indelicadeza e desagrado pelo seu trabalho!? Ele, que lhe dava tudo, que lhe dedicava a vida e o trabalho, que só tinha olhos para ela e só a queria ver feliz não aguentou mais uma estalada psicológica e decidiu acabar com o seu próprio sofrimento.
Olhou para ela. Olhou-a nos olhos e viu o escárnio, o ar de gozo indelicado que sempre aparecia nas horas mais íntimas, de entrega... olhou-a uma vez mais, beijou-a calmamente e disse-lhe apenas "vai ficar lindo... dedico-o a ti!"... e pegou no primeiro pincel que encontrou... (o sangue jorrava do corpo dela, caindo aleatoriamente no mortiço quadro, agora repleto do seu, tão desejado, vermelho vivo)...
(Abril 2005)
1 Comments:
tenho de te arranjar um caderno vermelho. ou rosa! ja que o meu é azul.
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